sexta-feira, 24 de junho de 2016

Neste ano trabalharei crônica e sei o quanto é incrível e desafiador, pois esse gênero não se define com exatidão por ter vários tons: poético, humorístico, irônico/ satírico, reflexivo etc. Enfim a crônica nos permite toda criatividade, nos envolve, uma vez que , utiliza a primeira pessoa e aproxima o autor do leitor como uma conversa informal, o cronista tente a dialogar sobre fatos  até mesmo íntimos com o leitor.



As imagens são de uso exclusivo da OLP e com permissão dos alunos envolvidos no projeto.
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24/06/2016                                                                                                                                                      
PRODUÇÕES TEXTUAIS DOS ALUNOS
Notícia que os alunos trouxeram para sala de aula e transformaram em crônica.

Pombos-correio iluminam o céu de Nova York

9º ano D

----------------------------------------------Nova York - Milhares de pombos tomaram o céu de Nova York na noite da última quinta-feira em uma performance realizada pelo artista americano Duke Riley. Carregando lâmpadas LED em suas patas, cerca de 2 mil animais foram soltos próximo à Baía do Brooklin, “riscando” o céu durante aproximadamente meia hora. Riley pretende repetir a performance nas noites de todos fins de semana até o dia 12 de junho.


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autores;
 Moisés e Miquéias
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9º ano B

"A onça Juma foi um dos assuntos mais falados da semana. Nesta segunda-feira, depois de participar do tour da Tocha Olímpica pela cidade de Manaus (AM), ela ficou inquieta, tentou fugir, avançou em um soldado e acabou morta a tiros. As últimas imagens dela, acorrentada enquanto a cerimônia acontecia, soaram absurdas e trágicas para milhares de pessoas que não deixaram a morte dela passar em branco na Internet. Juma era uma mascote do exército manauara, que tem um bom trabalho de recuperação de bichos silvestres, mas que tradicionalmente também costuma usá-los em paradas militares e desfile."

O fim de Juma
No dia 21 de junho de 2016, em uma terça, estava eu em Manaus, Amazonas participando de um evento olímpico, onde militares do exército carregavam a tocha das olimpíadas brasileira. Em uma rua bem asfaltada e muito bem decorada, os soldados passavam carregando o fogo da tocha. Observando bem, vi duas onças acorrentadas sendo apresentado para grande público, que em suas coleiras havia os nomes: Juma e Simba
Após uma série de aplausos percebo um comportamento estranho vindo de Juma. Ela estava agitada e muito inquieta. Provavelmente se sentindo ameaçada e assustada pelo grande número de pessoas, Juma avançou em um soldado. Logo mais ouvi disparos. O grande público deu um pulo para trás. Naquele momento de deparei com uma cena horrível: Juma desabou no asfalto com três tiros em sua cabeça. Um alarido vem do público. Pessoas chorando, outros revoltados com total brutalidade dos soldados, e outros sem entender absolutamente nada.
Juma havia deixado sua companheira Simba sozinha nas mãos daqueles militares. Havia sido abatida por tentar se defender. Juma que foi capturada e retirada do seu habitat natural; foi treinada e presa para ser mascote do exército, e tinha sido abatida. Isso é um absurdo! Temos que lutar pelos nossos animais, essa matança tem que acabar! Mas infelizmente enquanto a onça está em extinção, os “grandes” fecham os olhos, e só abrem para bens materiais.
 Autores:   Douglas Silva -Henrique de Queiroz- Kevin Pereira - Claydson Fabrício-Marcos Vinícius - Gustavo Almeida 

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 24/06/2016                                                                                                                                                                
"Guiné-Bissau, oficialmente República da Guiné-Bissau, é um país da África Ocidental que faz fronteira com o Senegal ao norte,Guiné ao sul e ao leste e com o Oceano Atlântico a oeste. O território guineense abrange 36.125 quilómetros quadrados de área, com uma população estimada de 1,6 milhão de pessoas.
Guiné-Bissau fazia parte do Reino de Gabu, bem como parte do Império Mali. Partes deste reino persistiram até o século XVIII, enquanto algumas outras estavam sob domínio do Império Português desde o século XVI. No século XIX, a região foi colonizada e passou a ser referida Guiné Portuguesa. Após a independência, declarada em 1973 e reconhecida em 1974, o nome de sua capital,Bissau, foi adicionada ao nome do país para evitar confusão com a Guiné (a antiga Guiné Francesa). Foi a primeira colónia portuguesa no continente africano a ter a independência reconhecida por Portugal.[5]

Guiné-Bissau tem um histórico de instabilidade política desde a sua independência e nenhum presidente eleito conseguiu completar com sucesso um mandato completo de cinco anos. Apenas 14% da população fala português, estabelecido como língua oficialdurante o período colonial. Quase metade da população (44%) fala kriol, uma língua crioula baseada no português, enquanto o restante dos habitantes falam uma variedade de línguas africanas nativas. As principais religiões são as religiões tradicionais africanas e o islamismo; há uma minoria cristã (principalmente católica romana)."

crônic8ª B

A vida em Guiné-Bissau
    Estava refletindo sobre a vida, pensando em como escrever mais uma crônica, pensando naquele menino que vivia em Guiné-Bissau, um dos países mais pobres do mundo. Aquele garoto havia perdido seu pai em uma guerra civil aos cinco anos de idade, viveu apenas com pouca água, pães e muita brincadeira. As únicas coisas que o consolavam naquela vida miserável eram seus amigos e os brinquedos improvisados com qualquer coisa que achava na rua.
    Aquele garoto sonhava com seu país livre da pobreza, pensava em ter uma vida melhor, em que sua mãe não precisaria trabalhar dia e noite por uma jarra de água e cinco pães. Esse garoto cresceu trabalhando duro para realizar seu sonho, que era melhorar de vida.
     Com 18 anos, juntou o dinheiro que tinha e viajou para Portugal, onde conheceu  um fazendeiro que o contratou para trabalhar em suas terras. O garoto era apenas um empregado, mas era tratado pelo fazendeiro como seu próprio filho, pois era um bom homem.
    Depois de 5 anos desde que o garoto começou a trabalhar em suas terras, o fazendeiro achou petróleo em sua propriedade. Ficou na maior felicidade do mundo, e deu 20% do lucro para o garoto. Com aquele dinheiro, o menino voltou para seu país, ajudou sua família e realizou seu sonho de ser escritor. Hoje luta para que Guiné-Bissau se torne um lugar melhor
     O garoto cresceu, nunca desistiu de seus sonhos e hoje está escrevendo mais uma crônica, esse garoto sou eu.

         autoras- Laura - Andreza, Ana Beatriz, Thainá

                        

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21/06/2016                                                                                                                                                                                                     Oficina OLP          

Escolha das notícias para produção textual

                   

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20/06/2016                                                                                                                                                                          
Trocando em miúdos
Refletindo sobre a diferença entre crônica e notícia

Da notícia à crônica

Tenho muita curiosidade em saber o que acontece pro trás da notícia e resolvi escrever uma crônica depois de ler uma pequena notícia no BOM DIA.
Eis a notícia:

Parque dos Pássaro – Buracos tomam conta do bairro
Está difícil para os moradores do Parque dos Pássaros entrarem e sair do bairro. Todas as ruas estão esburacadas e em algumas o asfalto desapareceu. De acordo com moradores, durante a campanha eleitoral municipal em 2008, muitos candidatos que foram eleitos prometeram que todo o bairro seria recapeado. A Secretaria de Serviços Gerais afirma que já fez o levantamento para as obras de pavimentação e diz que espera pelo fim do período de chuva.
Eis a crônica:
Ficou um buraco entre os dois
Quarta-feira é o melhor dia pra sair. Assim pensa Clodoaldo. Cris pouco importa com o dia da semana. Não precisa levantar cedo mesmo, e o que importa é estar ao lado do noivo. E foi na quarta-feira, tomando cerveja, comendo frango a passarinho e ouvindo música no J. Conte que os dois selaram um compromisso.
“Vamos nos casar quando comprarmos a nossa casa.”
“Falta muito?”
“Não. Pouca coisa pra completar a entrada. Depois a gente continua pagando. Tem financiamento a valer nos bancos. É só chegar e pegar”.
“A gente podia morar numa chácara. Amo chácaras.”
“O problema é a segurança. Fico preocupado com você, sozinha, num lugar deserto.”
“Que nada. Tem um monte de chácaras com muita gente morando. Até parece bairro. E também não precisa de uma chácara grandona. Pode ser pequininha”.
“Depois a gente vê isso, agora me dá um beijo”.
Parece que existe o destino marcado na vida das pessoas. Foi assim com Clodoaldo. Ao chegar ao trabalho comentou com Zé Gordo sobre o desejo da noiva. Foi falar e o Zé já tinha a solução:
“Tenho um amigo que está vendendo uma casa no Parque dos Pássaros. É show de bola. Só não compro porque não tenho dinheiro. E o tamanho do terreno é uma verdadeira chácara. A Cris vai amar”.
A casa era mesmo uma maravilha. O local perfeito para o que a noiva queria, mas e os buracos?
“O prefeito garantiu em campanha eleitoral que assim que assumir a prefeitura, vai recapear tudo. Vai ficar uma beleza”, dizia entusiasmado o dono da casa, que completava:
“Só estou vendendo porque minha mulher quer morar no centro da cidade. Senão, morria aqui. E morria muito velho”.
Negócio fechado. Queria fazer surpresa para a Cris. Na quarta-feira, tomando cerveja, comendo filé e ouvindo música no J. Conte, ele falou:
“Vamos marcar a o dia do casamento”.
“Mas, e a casa?”
“Já está comprada”.
“Onde?”
“Surpresa. Só posso te dizer que é numa chácara”.
Arroz solto no ar, muitos cumprimentos, os dois se casaram numa sexta-feira. Foram para um hotel e só no outro dia ele foi mostrar a casa para a esposa. Foi difícil convencê-la de só ver a residência depois do casamento. Ela só concordou com a promessa de que mudariam depois que a casa estivesse como ela queria. Decoração dela. Até lá, morariam na casa dos pais dele.
Pegaram a rodovia era mais ou menos dez horas da manhã. Ele ainda com um pouco de dor de cabeça do uísque consumido a litros na festa do dia anterior. Ao chegarem, depararam com um buraco, depois com outro e mais outro e outro. Ela olhou pra ele e perguntou com sarcasmo:
“Houve um bombardeio por aqui?”
“É só por um tempo. O prefeito garantiu, durante a campanha, que vai asfaltar tudo. Vai ficar uma beleza”.
“Quem te falou isso, Clodô?”
“O antigo proprietário da casa”.
“Clodô, aqui eu não moro. Pode voltar.”
“Mas, meu amor...”
“Acreditar em alguém que quer vender a casa eu até aceito, pois ainda tem gente honesta neste muito. Mas acreditar em político, tenha a santa paciência, né Clodô.”
É comum ver Clodoaldo na prefeitura, querendo saber quando começam as obras de recapeamento no Parque dos Pássaros. A última informação é que está se esperando passar a época das chuvas para começar o trabalho. Tudo bem que esta foi a mesma informação do ano passado. Mas Clodoaldo está confiante, pois não vê a hora de morar com a Cris, que está na casa dos pais dela e garantiu que só mora com ele, quando tiver a sua própria casa. Pode até ser no Parque dos Pássaros, mas com ruas sem buracos. E já alertou:
“E você que experimenta sair com outra mulher antes disso”.
                                                        Leitura pelos alunos


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COBRANÇA (Moacyr Scliar).


   Ela abriu a janela e ali estava ele, diante da casa, caminhando de

um lado para outro. Carregava um cartaz, cujos dizeres atraíam a atenção dos passantes: "Aqui mora uma devedora inadimplente".
   ― Você não pode fazer isso comigo ― protestou ela.

  ― Claro que posso ― replicou ele. ― Você comprou, não pagou.      Você é uma devedora inadimplente. E eu sou cobrador. Por  vezes    tentei lhe cobrar, você não pagou.
 ― Não paguei porque não tenho dinheiro. Esta crise...
 ― Já sei ― ironizou ele. ― Você vai me dizer que por causa daquele  ataque lá em Nova York seus negócios ficaram prejudicados.  Problema seu, ouviu? Problema seu. Meu problema é lhe cobrar. E  é o que estou fazendo.
 ― Mas você podia fazer isso de uma forma mais discreta...
 ― Negativo. Já usei todas as formas discretas que podia. Falei com  você, expliquei, avisei. Nada. Você fazia de conta que nada tinha a  ver com o assunto. Minha paciência foi se esgotando, até que não  me restou outro recurso: vou ficar aqui, carregando este cartaz, até  você saldar sua dívida.
 Neste momento começou a chuviscar.
 ― Você vai se molhar ― advertiu ela. ― Vai acabar ficando doente.
 Ele riu, amargo:
― E daí? Se você está preocupada com minha saúde, pague o que deve.
― Posso lhe dar um guarda-chuva...
― Não quero. Tenho de carregar o cartaz, não um guarda-chuva.
Ela agora estava irritada:
― Acabe com isso, Aristides, e venha para dentro. Afinal, você é meu marido, você mora aqui.
― Sou seu marido ― retrucou ele ― e você é minha mulher, mas eu sou cobrador profissional e você é devedora. Eu avisei: não compre essa geladeira, eu não ganho o suficiente para pagar as prestações. Mas não, você não me ouviu. E agora o pessoal lá da empresa de cobrança quer o dinheiro. O que quer você que eu faça? Que perca meu emprego? De jeito nenhum. Vou ficar aqui até você cumprir sua obrigação.
Chovia mais forte, agora. Borrada, a inscrição tornara-se ilegível. A ele, isso pouco importava: continuava andando de um lado para outro, diante da casa, carregando o seu cartaz.
 ( 5ª crônica trabalhada na OLP)
                                 MOACYR SCLIAR


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Lendo crônica de Moacyr Scliar



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quarta-feira, 25 de maio de 2016



Um caso de burro
Machado de Assis
Quinta-feira à tarde, pouco mais de três horas, vi uma coisa tão interessante, que determinei logo de começar por ela esta crônica. Agora, porém, no momento de pegar na pena, receio achar no leitor menor gosto que eu para um espetáculo, que lhe parecerá vulgar, e porventura torpe. Releve a importância; os gostos não são iguais.
Entre a grade do jardim da Praça Quinze de Novembro e o lugar onde era o antigo passadiço, ao pé dos trilhos de bondes, estava um burro deitado. O lugar não era próprio para remanso de burros, donde concluí que não estaria deitado, mas caído. Instantes depois, vimos (eu ia com um amigo), vimos o burro levantar a cabeça e meio corpo. Os ossos furavam-lhe a pele, os olhos meio mortos fechavam-se de quando em quando. O infeliz cabeceava, mais tão frouxamente, que parecia estar próximo do fim.
Diante do animal havia algum capim espalhado e uma lata com água. Logo, não foi abandonado inteiramente; alguma piedade houve no dono ou quem quer que seja que o deixou na praça, com essa última refeição à vista. Não foi pequena ação. Se o autor dela é homem que leia crônicas, e acaso ler esta, receba daqui um aperto de mão. O burro não comeu do capim, nem bebeu da água; estava já para outros capins e outras águas, em campos mais largos e eternos. Meia dúzia de curiosos tinha parado ao pé do animal. Um deles, menino de dez anos, empunhava uma vara, e se não sentia o desejo de dar com ela na anca do burro para espertá-lo, então eu não sei conhecer meninos, porque ele não estava do lado do pescoço, mas justamente do lado da anca. Diga-se a verdade; não o fez – ao menos enquanto ali estive, que foram poucos minutos. Esses poucos minutos, porém, valeram por uma hora ou duas. Se há justiça na Terra valerão por um século, tal foi a descoberta que me pareceu fazer, e aqui deixo recomendada aos estudiosos.
O que me pareceu, é que o burro fazia exame de consciência. Indiferente aos curiosos, como ao capim e à água, tinha no olhar a expressão dos meditativos. Era um trabalho interior e profundo. Este remoque popular: por pensar morreu um burro mostra que o fenômeno foi mal entendido dos que a princípio o viram; o pensamento não é a causa da morte, a morte é que o torna necessário. Quanto à matéria do pensamento, não há dúvidas que é o exame da consciência. Agora, qual foi o exame da consciência daquele burro, é o que presumo ter lido no escasso tempo que ali gastei. Sou outro Champollion, porventura maior; não decifrei palavras escritas, mas ideias íntimas de criatura que não podia exprimi-las verbalmente.
E diria o burro consigo:
“Por mais que vasculhe a consciência, não acho pecado que mereça remorso. Não furtei, não menti, não matei, não caluniei, não ofendi nenhuma pessoa. Em toda a minha vida, se dei três coices, foi o mais, isso mesmo antes haver aprendido maneiras de cidade e de saber o destino do verdadeiro burro, que é apanhar e calar. Quando ao zurro, usei dele como linguagem. Ultimamente é que percebi que me não entendiam, e continuei a zurrar por ser costume velho, não com ideia de agravar ninguém. Nunca dei com homem no chão. Quando passei do tílburi ao bonde, houve algumas vezes homem morto ou pisado na rua, mas a prova de que a culpa não era minha, é que nunca segui o cocheiro na fuga; deixava-me estar aguardando autoridade.”

“Passando à ordem mais elevada de ações, não acho em mim a menor lembrança de haver pensado sequer na perturbação da paz pública. Além de ser a minha índole contrária a arruaças, a própria reflexão me diz que, não havendo nenhuma revolução declarado os direitos do burro, tais direitos não existem. Nenhum golpe de estado foi dado em favor dele; nenhuma coroa os obrigou. Monarquia, democracia, oligarquia, nenhuma forma de governo, teve em conta os interesses da minha espécie. Qualquer que seja o regime, ronca o pau. O pau é a minha instituição um pouco temperada pela teima que é, em resumo, o meu único defeito. Quando não teimava, mordia o freio dando assim um bonito exemplo de submissão e conformidade. Nunca perguntei por sóis nem chuvas; bastava sentir o freguês no tílburi ou o apito do bonde, para sair logo. Até aqui os males que não fiz; vejamos os bens que pratiquei.”
“A mais de uma aventura amorosa terei servido, levando depressa o tílburi e o namorado à casa da namorada – ou simplesmente empacando em lugar onde o moço que ia ao bonde podia mirar a moça que estava na janela. Não poucos devedores terei conduzido para longe de um credor importuno. Ensinei filosofia a muita gente, esta filosofia que consiste na gravidade do porte e na quietação dos sentidos. Quando algum homem, desses que chamam patuscos, queria fazer rir os amigos, fui sempre em auxílio deles, deixando que me dessem tapas e punhadas na cara. Em fim...”
Não percebi o resto, e fui andando, não menos alvoroçado que pesaroso. Contente da descoberta, não podia furtar-me à tristeza de ver que um burro tão bom pensador ia morrer. A consideração, porém, de que todos os burros devem ter os mesmos dotes principais, fez-me ver que os que ficavam não seriam menos exemplares do que esse. Por que se não investigará mais profundamente o moral do burro? Da abelha já se escreveu que é superior ao homem, e da formiga também, coletivamente falando, isto é, que as suas instituições políticas são superiores às nossas, mais racionais. Por que não sucederá o mesmo ao burro, que é maior?
Sexta-feira, passando pela Praça Quinze de Novembro, achei o animal já morto.

Dois meninos, parados, contemplavam o cadáver, espetáculo repugnante; mas a infância, como a ciência, é curiosa sem asco. De tarde já não havia cadáver nem nada. Assim passam os trabalhos deste mundo. Sem exagerar o mérito do finado, força é dizer que, se ele não inventou a pólvora, também não inventou a dinamite. Já é alguma coisa neste final de século. Requiescat in pace.
( Quarta crônica trabalhada na OLP)






Volta ao passado .
Imagens do Rio de Janeiro nos tempos dos tilburis e os bondes





https://www.youtube.com/watch?v=apvv4Lb4Wug



( Terceira crônica trabalhada na OLP)







                    Peladas 
                                              Armando Nogueira
Esta pracinha sem aquela pelada virou uma chatice completa: agora, é uma babá que passa, empurrando, sem afeto, um bebê de carrinho, é um par de velhos que troca silêncios num banco sem encosto.
E, no entanto, ainda ontem, isso aqui fervia de menino, de sol, de bola, de sonho: “Eu jogo na linha! eu sou o Lula!; no gol, eu não jogo, tô com o joelho ralado de ontem; vou ficar aqui atrás: entrou aqui, já sabe”. Uma gritaria, todo mundo se escalando, todo mundo querendo tirar o selo da bola, bendito fruto de uma suada vaquinha.
Oito de cada lado e, para não confundir, um time fica como está; o outro joga sem camisa.
Já reparei uma coisa: bola de futebol, seja nova, seja velha, é um ser muito compreensivo que dança conforme a música: se está no Maracanã, numa decisão de título, ela rola e quiçá com um ar dramático, mantendo sempre a mesma pose adulta, esteja nos pés de Gérson ou nas mãos de um gandula.
Em compensação, num racha de menino ninguém é mais sapeca: ela corre para cá, corre para lá, quica no meio-fio, para de estalo no canteiro, lambe a canela de um, deixa-se espremer entre mil canelas, depois escapa, rolando, doida, pela calçada. Parece um bichinho.
Aqui, nessa pelada inocente é que se pode sentir a pureza de uma bola. Afinal, trata-se de uma bola profissional, uma número cinco, cheia de carimbos ilustres: “Copa Rio-Oficial”, “FIFA — Especial”. Uma bola assim, toda de branco, coberta de condecorações por todos os gomos (gomos hexagonais!), jamais seria barrada em recepção do Itamaraty.
No entanto, aí está ela, correndo para cima e para baixo, na maior farra do mundo, disputada, maltratada até, pois, de quando em quando, acertam-lhe um bico, ela sai zarolha, vendo estrelas, coitadinha.
Racha é assim mesmo: tem bico, mas tem também sem-pulo de craque como aquele do Tona, que empatou a pelada e que lava a alma de qualquer bola. Uma pintura.
Nova saída.
Entra na praça batendo palmas como quem enxota galinha no quintal. É um velho com cara de guarda-livros que, sem pedir licença, invade o universo infantil de uma pelada e vai expulsando todo mundo. Num instante, o campo está vazio, o mundo está vazio. Não deu tempo nem de desfazer as traves feitas de camisas.
O espantalho-gente pega a bola, viva, ainda, tira do bolso um canivete e dá-lhe a primeira espetada. No segundo golpe, a bola começa a sangrar. Em cada gomo o coração de uma criança.
( segunda crônica trabalhada na OLP) 






Sobre Armando Nogueira é um estilista, na medida em que escreve sobre futebol a partir de uma consciência artesanal que envolve suas crônicas de um grau de literaridade tal, que elas, hoje, constituem páginas realmente literárias com toda a força imagística, poética, carga épica e dramática, que costumam envolver tais criações. Tem dois livros lançados, "Bola na rede", e "A chama que não se apaga", sobre as cinco olimpíadas que cobriu como jornalista. Hoje colabora com diversos jornais, que publicam suas crônicas esportivas, e mantêm programa em uma emissora de televisão.


                                


-----------------------------------------------------------------------------------------A descoberta de uma crônica.

A Última Crônica



A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer um flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num incidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: “assim eu quereria o meu último poema”. Não sou poeta e Estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.
Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acentuar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno da mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.
Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho — um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular.
A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de coca-cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno da mesa um pequeno ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.
São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a coca-cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: “parabéns pra você, parabéns pra você…”
Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura — ajeita-lhe a fitinha no cabelo, limpa o farelo de bolo que lhe cai no colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. De súbito, dá comigo a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido — vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.
Assim eu quereria a minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.
(Fernando Sabino. In: Para gostar de ler. São Paulo: Ática, 1979-1980.)
     https://youtu.be/FgH8XuTv3ZM

( A primeira crônica trabalhada na OLP)